segunda-feira, 13 de junho de 2011

002- ADERBAL DE FIGUEIREDO


 
ADERBAL FIGUEIREDO

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Nasceu na Vila de Aquidabã, em 18 de dezembro de 1898, sendo seus pais Francisco de Figueiredo e Clara Angelina de Figueiredo.
Fez o curso primário em sua cidade natal, completando os estudos em Aracaju, onde frequentou o Ateneu Sergipense, o Colégio Salesiano e o Grêmio Escolar (antigo estabelecimento de ensino dirigido pelo Desembargador Evangelino de Faro).
Em 1915, mudou-se para Salvador, matriculando-se, dois anos depois, na Faculdade de Medicina da Bahia.
Na Bahia cursou os dois primeiros anos do curso médico. Depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde completou seu tirocínio acadêmico.
Como estudante de medicina, foi interno do Hospital São João Batista e da Assistência Pública de Niteroi e, logo depois, auxiliar acadêmico da Assistência Pública do Distrito Federal, interno do Hospital Central da Marinha, do Hospital Pró-Matre, e monitor da 2ª enfermaria do Hospital da Santa Casa.
Formou-se em medicina no ano de 1922, defendendo tese  sobre “Estudo Clínco da Insuficiência Pulmonar”.
Imediatamente após a formatura, assumiu o cargo sub-inspetor sanitário rural, na Comissão de Saneamento e Profilaxia Rural de Sergipe.
Exerceu a direção do Posto Oswaldo Cruz, em Propriá, até agosto de 1923.
Transferido para o Rio Grande do Norte, assumiu a direção do Posto de Saneamento de Caicó.
Homem culto e médico competente, colaborou com a imprensa de Sergipe e do Rio Grande do Norte, publicando vários artigos, tanto no “Diário da Manhã” de Aracaju, quanto no “Seridoense”, de Caicó.
Faleceu em 1953, na cidade de Natal, aos 55 anos de idade.

FONTE BIBLIOGRÁFICA: Guaraná, Armindo – Dicionário Biobibliográfico de Sergipe. Rio, 1926.

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DR. ADERBAL DE FIGUEIREDO
Autor: ITALO SUASSUNA, Membro  Emérito da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte.

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               “Um médico por vocação” foi o que disse de Aderbal de Figueiredo, o Prof. Onofre Lopes. Este, fundador e primeiro reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, trabalhara como assistente em serviço cirúrgico dirigido pelo primeiro. Aquele comentário passou a ser repetido com freqüência por muitos daqueles que comentaram e homenagearam a estatura médico-profissional de Aderbal de Figueiredo e lamentaram o seu desaparecimento precoce, aos 55 anos de idade na Cidade do Natal, onde transcorreu a maior parte de sua vida dedicada à medicina.
               É remota a minha lembrança do Dr. Aderbal, do seu tipo físico e sua fisionomia. Eu tinha apenas treze anos quando ele a falecer, mas eu já fora condicionado a lhe prestar homenagem na figura do médico da família. Primogênito em minha casa, tive o privilégio de o ter como padrinho de batismo e, a partir daí, a cultuar a sua memória, até chegar, eu mesmo, à decisão de ingressar numa faculdade de medicina. No dicionário Aurélio dá-se como exemplar o que serve ou pode servir de modelo, e ilustra-se a significação do vocábulo, com uma sentença de Clementino Fraga Filho a respeito de Luiz Feijó. Não obstante esses dois médicos eminentes terem sido meus professores, foi Aderbal de Figueiredo o primeiro médico exemplar que conheci e me foi apontado.
               Constata-se hoje que a memória de Aderbal de Figueiredo conserva-se, entre outras situações, no Memorial do Rio Grande do Norte, inaugurado em 2002 (Av. Rio Branco, 388, Natal, RN) empreendimento meritório do Dr. Olimpio Maciel, e onde se encontra acervo de suas lembranças.
               Contudo, Aderbal de Figueiredo não era natural Rio Grande do Norte. Foi este o seu estado de adoção, aquele que ele escolheu, e que o acolheu retribuindo-lhe o amor. Figueiredo nascera em Sergipe, na cidade de Aquidabã, a 18 de dezembro de 1889, onde fez seus estudos fundamentais no Colégio Salesiano e no Atheneu Sergipano. Em 1917, com 28 anos, portanto, ingressou no tradicional urso de medicina em Salvador, Bahia, transferindo-se no terceiro ano para o Rio de Janeiro, onde colou grau em 1922. É oportuno lembrar que apenas dois anos antes (1920) a faculdade de Medicina do Rio de Janeiro passara a integrar, junto com a Escola Polytechnica [sic] e a Faculdade de Direito, a primeira universidade instituída no Brasil a Universidade do Rio de Janeiro que, em 1937, veio a denominar-se Universidade do Brasil, já então constituída por treze unidades do ensino superior.
               Aderbal foi estudante pobre e precisou trabalhar durante o curso médico. Ao transferir-se para o Rio de Janeiro, em 1920, foi interno do Hospital São João Batista e da Assistência Pública em Niterói. No ano seguinte obteve por concurso a colocação de auxiliar acadêmico da Assistência Pública de então Distrito Federal e, outra vez por concurso no qual obteve o primeiro lugar, passou a interno do Hospital Central da Marinha. No ano em que se formou cumpria o internato com o Prof. Rocha Faria, sendo monitor na 2ª Enfermaria no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Aloysio de Castro era então o Diretor da Faculdade de Medicina.
               Já radicado no Rio Grande do Norte, no dia em que completou 35 anos de idade (18/12/1924) Aderbal de Figueiredo recebeu como esposa aquela que, daí, passou a assinar-se Dulce Meira e Sá de Figueiredo, de ilustre família potiguar, dedicada a ele em vida, e à sua memória, após o seu precoce falecimento, e que lhe sobreviveu por muitos anos.
               Segundo informação dessa amantíssima esposa, logo após formado “precisando trabalhar” o Dr. Aderbal ingressou no Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural, sendo designado para Propriá, em Sergipe e, dois meses depois, incubido de fundar e dirigir um posto na cidade de Caicó, já no R. G. do Norte. Além de sua porta de entrada no estado potiguar, Caicó representou uma baliza nas suas preocupações profissionais, abrindo de sua formação cirúrgica urbana para a consideração dos problemas higiênicos e aspectos sociais da medicina. Passou a colaborador do jornal local “Seridoense” assinando crônicas que tinham por títulos “Propaganda Sanitária” e “Pontos de Vista”. Tornou a cidade de Caicó pioneira na adoção das fossas sanitárias. Elaborou trabalho sobre a freqüência de teníases. Quando o posto de profilaxia rural foi extinto para a transferência dos seus serviços a outra área, desligou-se dessas atividades para dedicar-se à clínica privada, amparada na confiança que granjeara junto à população de Caicó. Impulsionava-o um sonho: a construção do hospital regional. E foi assim que , com o apoio da sociedade civil e de órgãos oficiais ergue-se em quatro anos o Hospital do Seridó, apontado pela crônica como “iniciativa pioneira na interlândia norte-rio-grandense”. Ainda segundo Dna. Dulce, concluído o hospital, pensou em voltar e fixar residência no Rio de Janeiro, mas em 1929, uma oferta do governo do estado nordestino o levou a aceitar as posições de médico de saúde pública e de medicina legal, com o que veio a residir na capital do Estado. Em Natal, começou a trabalhar no seu único hospital geral existente àquela época: o Hospital de Caridade Juvino Barreto. Este, anos depois, veio a chamar-se Hospital Miguel Couto (o único que conheci em minha infância) e foi posteriormente integrado à Universidade Federal do R. G. do Norte.


001- ADEL DA SILVA NUNES


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Nasceu em 7 de janeiro de 1909, na fazenda Remanso, em Mundo Novo, Bahia, sendo
seus pais Manoel Inácio Nunes e Maria Madalena da Silva Nunes.
Viveu sua infância cavalgando pastos e campos da fazenda de seus pais.
Aos 13 anos, mudou-se para Salvador, onde fez seus preparatórios no Colégio Carneiro Ribeiro.
Concluido os preparatórios, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia.
Em 1933 concluiu o curso médico e  iniciou a vida profissional, clinicando  na cidade de Lençois.  Alí permaneceu durante dois anos.
Em seguida mudou-se para Aracaju, onde contraiu matrimônio com Maria de Lourdes de Carvalho Leite, filha do Dr. Leonardo Gomes de Carvalho Leite, conceituado jurista da capital sergipana.
Especializou-se em Pediatria, no Rio de Janeiro.
Regressando a Aracaju, tornou-se professor da rede pública estadual.
Como médico, pertenceu aos quadros da Prefeitura, onde exerceu,  o cargo de Diretor do Departamento de Educação e Saúde, durante as administrações dos Prefeitos José Garacez Vieira, Roosevelt Cardoso, Godolfredo Diniz e José Conrado de Araújo.
Foi médico do Círculo Operário de Sergipe, bem como do Corpo de Bombeiros e da Legião Brasileira de Assistência (onde prestou relevantes serviços durante quase 30 anos).
Exerceu a medicina, também, nas cidades de Salgado e Bonfim.
Na área da educação, dedicou-se ao ensino de Biologia no Instituto Normal Rui Barbosa, do qual foi diretor, a partir de 17 de outubro de 1963.
Seu desprendimento e dedicação às pessoas humildes fez com que fosse conhecido como “o médico dos pobres” , “de vez cuidava com desvelo, e gratuitamente, das pessoas desfavorecidas de recursos, inclusive quando se encontrava em gozo de férias”.
Faleceu em 23 de março de 1972.
Em 4 de setembro de 1984, foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Aracaju, a qual denominou Avenida Dr. Adel Nunes, um dos logradouros do Conjunto Habitacional Augusto Franco.
A Prefeitura Municipal deu o nome de Dr. Adel Nunes ao Posto de Saúde localizado no Bairro América.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
Dados  do arquivo particular do Autor e e informações prestadas pela odontóloga Maria de Fátima Leite Nunes Batista, filha do epigrafado.

          
   BRASÃO DE ARACAJU ---  ARACAJU, NA DÉCADA DE 50

quinta-feira, 9 de junho de 2011

HOMENAGEM ESPECIAL: BERILO VIEIRA LEITE

 
ESTÂNCIA
(CIDADE ONDE BERILO LEITE VIVEU SUA INFÊNCIA)

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Nasceu em 16 de fevereiro de 1878, no Engenho São Félix, município de Santa Luzia (Sergipe), sendo seus pais Sizenando de Souza Vieira e Adelaide de Souza Leite.
Realizou os estudos iniciais em Estância (SE), tendo ingressado na Faculdade de Medicina da Bahia no ano de 1901.
Colou o grau de doutor em Medicina no dia 22 de dezembro de 1906, após defender tese inaugural intitulada “Da Raquistovainização”.
Iniciou a vida profissional em Estância, transferindo-se depois para Aracaju, onde, na expressão de Armindo Guaraná, destacou-se “como um dos membros mais destacados de sua classe”.
Exerceu durante muitos anos o cargo de Inspetor Sanitário dos Portos de Sergipe.
Faleceu em 1º de julho de 1952, em Aracaju, capital de Sergipe.
O jornal “Correio de Aracaju” publicou, por ocasião da sua morte, o seguinte registro:
“Desapare do seio dos vivos um grande vulto da medicina e da sociedade, o estimado clínico Dr. Berilo Vieira Leite.
Espírito calmo e caritativo, homem da Pátria, médico do povo, coração abençoado, era o Dr. Berilo portador de um conjunto de preciosidades que muito enobrece o seu passado. Muito merecidas foram as palavras do poeta Freire Ribeiro em torno do necrologio desse conterrâneo benfeitor.
O seu passado se reflete no presente e se projeta no futuro como exemplo de moral, de ação e de serenidade. Ainda forte, em plena tarde do século, aos 74 anos, foi vencido pela doença e arrebatado pela morte!
Perdeu o município de Santa Luzia um dos seus astros luminosos, como igualmente perdeu Sergipe!”

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
Correio de Aracaju, edição de 3 de julho de 1952.
Guaraná, Armindo – Dicionário Biobliográfico Sergipano. Rio de Janeiro: Editora Pongeti, 1925.
Leite, Geraldo – Reminiscências. Feira de Santana: Editora  Universidade Estadual de Feira de Santana, 2007.

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ENGENHO SÃO FÉLIZ
(ENGENHO ONDE NASCEU BERILO LEITE)

HISTÓRIA DO ENGENHO SÃO FÉLIX

Engenho São Félix, sua história e a dos seus descendentes é a primeira obra do gênero produzida por não historiadores este ano. Como é fato conhecido, a historiografia não nasceu na Universidade e mesmo depois da institucionalização da disciplina (História) a experiência de pessoas, instituições e eventos continuou a ser narrada por autodidatas. Nada contra a iniciativa. Afinal, uma tarefa tão prazerosa não deveria ser mesmo monopólio de um grupo de acadêmicos. Gozando de tal prerrogativa, a professora Ana Maria Nunes Espinheira registrou flagrantes da trajetória de duas famílias centenárias (Souza Vieira e Leite) que têm pelo menos dois aspectos em comum: viveram em torno do Engenho São Félix (Santa Luzia-SE) e constituíram os troncos ancestrais da própria autora.
O livro da Prof. Ana Espinheira é vertido em linguagem simples e cumpre apenas o objetivo de "manter vivos pessoas e fatos, pelos menos nestas páginas, já que é impossível na realidade." É, claramente, uma história-memória (afetiva, particular, fragmentária, sacralizadora, etc.). Na belíssima capa, fundem-se as imagens dos principais atores; o conjunto arquitetônico do Engenho São Félix; e os brasões das respectivas famílias (Vieira e Leite).  O livro é iniciado com uma breve narrativa sobre a formação da grande propriedade que foi o Engenho São Félix e a trajetória do patriarca da família o Tenente Coronel Paulo de Souza Vieira.
Nas páginas que se seguem, a autora narra a experiência de três dezenas de familiares distribuídos por sete gerações entre 1781 e 1984. As filiações genealógicas, os casamentos, a atividade política dos descendentes dão a tônica das biografias. Mas também compõem os textos algumas informações sobre o processo de concentração das terras em torno do Engenho, a tentativa de modernização da empresa, e o desempenho de alguns descendentes nas atividades comerciais. As própria famílias serão, com certeza, as grandes beneficiadas com essa singela obra. Além de atualizarem os seus estoques de lembranças, aprenderão, com a autora, a registrar sua descendência e a dar continuidade às genealogias dos troncos “Souza Vieira” e “Leite”. Para os historiadores dos costumes, o livro da Prof.ª Ana Espinheira fornece indícios que ajudam a caracterizar melhor os códigos sociais em vigor até meados do século XX: casamentos precoces e consangüíneos, prole extensa, longevidade dos patriarcas, particularidades da educação feminina, etc.
Ao leitor comum, a autora frustra algumas expectativas. A história do Engenho, por exemplo, aparece em segundo plano, ao contrário do que anuncia o título. A riqueza do acervo fotográfico das famílias (algumas peças retratando várias gerações) sugere respeito em relação ao passado e uma forte necessidade em registrar a experiência ancestral. Imagina-se que um pouco mais de esforço junto aos depoentes fosse capaz de narrar sobre as atividades desenvolvidas pela propriedade, a representatividade econômica e política na região, o processo de apogeu e crise na produção do São Félix. Por outro lado, alguns episódios (sui generis, trágicos, é bem verdade) poderiam render muito mais à obra se fossem suficientemente explorados pela autora: os casos de amores secretos, os casos de loucura, as mortes acidentais na roda d’água do Engenho deixam no leitor uma inevitável sede de saber mais. A própria história do casal João José de Oliveira Leite (Barão do Timbó) e Joaquina Hermelina é, sozinha, merecedora de um livro. Ambos viúvos e com seis filhos cada um, casaram-se e produziram mais dois sendo que três filhos de Joaquina casaram-se com três filhos do Barão. Bom, isso é apenas desejo do leitor comum. Desejo esse que pode esbarrar na proposta da autora e nos limites estabelecidos pela família sobre que tipo de lembrança deve ou não vir a público. Todavia, ficam registradas as sugestões para a elaboração de outros trabalhos.
Um último lembrete: para quem vê na obra o culto extemporâneo à aristocracia de sangue em Sergipe, é preciso levar em conta que a historiografia não se faz apenas sob o ponto de vista dos proletários, dos religiosos, ou qualquer outro segmento social. Apesar de criticarmos tanto a chamada historiografia tradicional – "triunfante, oficial" –, pouco conhecemos do cotidiano das elites detentoras do mando em Sergipe. A experiência familiar de troncos significativos como os Rolemberg, Faro, Barreto, Franco, Leite, Menezes, permanece em reserva e vai morrendo aos poucos à cada partilha de bens, como, aliás, é o destino de toda lembrança pessoal. Mas essa, com certeza, não será a sorte da memória dos “Souza Vieira” e dos “Leite”. A família deve estar agradecida à Profª Ana Espinheira e os historiadores mais ainda, já que o seu trabalho reúne subsídios para o melhor conhecimento de uma significativa fração da sociedade sergipana.

Para citar este texto:
OLIVEIRA, Itamar Freitas de. História do Engenho São Félix. Jornal da Cidade, Aracaju, p. 6-6, 12 jul. 2000.